como se retoma algo estagnado há tanto tempo? como começar de novo? como romper esse abismo autogerado após períodos extensos de silêncio?
retorno para sua caixa de entrada depois de um longo período de afastamento. entenda que, mesmo sabendo que escrever aqui me cura de formas indescritíveis, eu escolhi me afastar.
às vezes, para me resguardar; outras, para evitar lidar com o que me atravessava.
a escrita, para mim, remete à vida, e nos últimos meses eu lidei com tudo, menos ela. tenho meus bons motivos. mas chega uma hora em que cansa fugir daquilo que está no nosso caminho.
talvez seja contra-intuitivo dizer que estou retornando à superfície justamente quando o Sol entra em Escorpião. afinal, é uma energia que nos puxa para baixo, que nos coloca frente a frente com aquilo que estivemos negando há tanto tempo.
mas aí é que reside a medicina desta temporada: quanto mais fundo a energia te leva, mais resistência você gera para não se afogar. é a nossa habilidade humana de sobrevivência. (e muitas vezes é só nesses momentos de “desespero” que nos lembramos dela.)
escorpião fala sobre profundidade emocional, cura e, principalmente, sobre encarar e transmutar aquilo que varremos para debaixo do tapete por muito tempo.
para nós, encarnadas, essa energia traz à tona nossa dificuldade em sustentar nossos processos, nosso poder e nossa própria verdade. é como se uma placa luminosa se acendesse, revelando nossa constante autossabotagem e nossa fuga dos compromissos que assumimos conosco.
ela esfrega na nossa cara o quanto temos sido infiéis à nossa própria história.
e o quanto somos incoerentes em nossos discursos sobre o que queremos realizar nesta vida.
é como se as mentiras que contamos a nós mesmas — de que não estamos prontas, que não é o momento ideal, que não temos recursos — literalmente caíssem por terra. fica insustentável continuar se enganando.
e dói, eu sei. afinal, não existe nada pior do que ser desleal com nossos sonhos.
é como provar cada vez mais do veneno que você injeta em si mesma diariamente, porém agora com uma intensidade e uma consciência surreais.
essa energia de água não remete à fluidez; pelo contrário, remete à estagnação, à sobrecarga e à densidade dos nossos processos, como se fosse um poço cheio de lodo.
quando você está correndo (ou seria fugindo?), é quase impossível observar com presença o que acontece ao seu redor.
essa urgência por estar em constante movimento é uma das maiores anestesias da nossa vida.
ao correr, você se exime de sentir, de refletir e de se responsabilizar pelo seu processo. afinal, você está "sem tempo" para nada, não é?
quando a temporada escorpiana começa, ela te paralisa, e é através do desconforto de lidar com esse "não movimento" que encontramos a energia necessária para criar novas estratégias para sair desse lugar. nós nos sufocamos em nossas próprias crenças.
quando estamos estagnadas e presas nas narrativas que nós mesmas criamos, finalmente encaramos a necessidade de sair desse lugar de “coitada” e ficamos cara a cara com as nossas sombras mais profundas. (tem coisa que não dá pra “desver”.)
essa é uma das temporadas mais densas do ano, e é por isso que, muitas vezes, ela nos impulsiona a sair desse ciclo de paralisação e autossabotagem constante.
talvez, neste momento, todas as suas feridas estejam expostas, sua ansiedade esteja acima do normal, seu incômodo esteja latente e suas crises existenciais estejam mais profundas.
talvez tudo o que você queira agora seja se esconder em casa e só sair quando o Sol entrar em Sagitário e as confraternizações começarem.
afinal, nada melhor que bons drinks, conversas aleatórias e uma energia de fogo para voltarmos a nos anestesiar. (sem julgamentos, também anseio por esse momento.)
mas uma coisa é certa: mesmo que todo o seu campo mental esteja buscando fugas, seu corpo físico e emocional estão querendo se desfazer de muitas coisas, encerrar ciclos, estabelecer novos limites e retomar a coragem de seguir em frente.
seu corpo sabe que a realização nasce da decisão de parar de fugir de si mesma.
cansadas de nos anestesiar, começamos a deixar para trás o que nos impede de realizar, e, muitas vezes, o que deixamos para trás é esse vício de fingir ser a "pollyana boa moça", essa fuga incansável de quem realmente somos — imperfeitas, incoerentes, não lineares.
a busca por não errar é o que te mantém presa onde está. a busca por pertencer a todo custo é o que te mantém rígida e infeliz em suas relações.
a mente só projeta aquilo que conhece. bancar a si mesma exige dar um passo em direção ao desconhecido. sem garantias, baby.
precisamos nos perguntar se esse lugar seguro e familiar que criamos na nossa mente realmente é o que ansiamos para nossa vida.
qual preço estou disposta a pagar para chegar onde quero?
será que estou pronta para ser a vilã dessa história ao me escolher?
será que estou pronta para me levantar caso eu caia?
será que estou pronta para dizer aquilo que realmente me atravessa?
será que estou pronta para me olhar no espelho e reconhecer que sou, ao mesmo tempo, a vítima e o algoz?
entenda que, muitas vezes, será necessário ficar presa dentro de si mesma, colocar suas próprias algemas para lidar com seus processos. mas será que você já não está há tempo demais nesse "mood", se alimentando dos ganhos secundários de não se responsabilizar pela própria vida?
eu desejo que a temporada escorpiana te expulse da sua zona de conforto, te coloque de frente com seus medos, te faça errar mais rápido, mais intensamente, e que você encontre cura na sua imperfeição. que você tenha forças para sair da areia movediça que criou para si mesma.
estou feliz em estar de volta por aqui e animada para conversarmos mais sobre o que nos atravessa. escreve para mim também? estou louca para te ouvir.
com amor,
alice alves